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A Coletividade como um Atributo da Alma

 

Por Itamargarethe Corrêa Lima Jornalista, radialista, advogada, pós-graduada em Direito Tributário, Penal e Processo Penal; pós-graduanda em Direito Civil, Processo Civil e Docência do Ensino Superior.

Nesta semana, daremos continuidade à reflexão sobre a depressão, aprofundando um olhar cada vez mais necessário sobre uma de suas causas estruturantes: a educação individualista. Ratificando o que falado em outrora, quando essa forma de ensino se torna regra, o sujeito deixa de desenvolver a coletividade como atributo da alma, e o resultado se revela não apenas no comportamento, mas também na biologia do cérebro.

A ocitocina, hormônio diretamente ligado aos laços sociais, e a serotonina, neurotransmissor que proporciona sensação de bem-estar, são afetados quando o convívio humano é negligenciado. O que isso quer dizer?

No resumo da opera, quando a coletividade não é valorizada, seja pela ausência de vínculos afetivos ou pela falta de incentivo educacional à empatia, o cérebro reduz a produção dessas substâncias e, como consequência, as relações cerebrais se tornam mais superficiais, frágeis e desprovidas de profundidade emocional.

Infelizmente, a educação voltada para o desempenho individual impõe ao sujeito uma sensação de competição constante. O indivíduo passa a disputar consigo mesmo e com os outros, muitas vezes de forma inconsciente, como se a vida fosse um embate permanente.

Esse padrão ativa, em nível cerebral, a produção excessiva de cortisol, o hormônio do estresse. Sob esse estímulo contínuo, instala-se um estado de alerta que desconecta o sujeito do coletivo e o isola emocionalmente.

O excesso de cortisol atinge diretamente o hipocampo, região cerebral responsável pela memória e pela regulação das emoções. Em ambientes altamente competitivos, o hipocampo passa a registrar com maior intensidade memórias negativas, potencializando a percepção de fracasso e insegurança.

Tal processo também compromete a ação do BDNF (Fator Neurotrófico Derivado do Cérebro), responsável pela plasticidade neural. Quando o BDNF se reduz, o cérebro perde sua capacidade adaptativa, e a memória passa a operar de forma depreciativa — o que favorece o desenvolvimento de quadros depressivos.

Outro impacto do individualismo se dá sobre a dopamina, neurotransmissor ligado à motivação e à sensação de recompensa. O indivíduo educado sob essa lógica associa sua felicidade as metas externas, como conquistas materiais, status e reconhecimento social. Quando esse feito não é alcançado, os níveis de dopamina caem, gerando uma sensação profunda de desmotivação e desprazer — sintomas típicos da depressão.

Nesse cenário, o GABA, neurotransmissor responsável pela tranquilidade e pela regulação da ansiedade, também entra em desequilíbrio. O sujeito passa a viver em estado constante de alerta, alimentando um ciclo de cobrança, tensão e ansiedade.

A falta de pausas, o excesso de metas e o isolamento emocional comprometem sua capacidade de autorregulação, abrindo caminho para estados de hipersensibilidade emocional e instabilidade psíquica. É importante lembrar que a mente não está isolada do corpo.

O intestino, por exemplo, é responsável pela produção de cerca de 90% da serotonina do organismo. Quando o indivíduo está sob estresse crônico, ocorrem desequilíbrios intestinais que comprometem essa produção.

A presença de inflamações e disfunções na microbiota — inclusive ligadas a bactérias como a Helicobacter pylori — interfere diretamente na sensação de bem-estar. A ciência já reconhece essa conexão entre intestino e cérebro como um dos fatores-chave para entender a depressão em sua complexidade.

Todos esses processos — cerebrais, hormonais e afetivos — convergem para uma mesma constatação: o individualismo educacional não apenas afasta o sujeito da convivência, mas o empurra para um modelo de vida que desorganiza sua estrutura emocional e neurológica.

Ao negar o outro, o indivíduo nega a si mesmo o direito de experimentar os laços que sustentam o sentido da existência. É urgente repensar a base da formação humana. Precisamos ensinar nossa prole a competir menos e conviver mais, substituindo as metas de desempenho pela valorização da empatia. Educar para o coletivo é, hoje, um dos maiores atos de prevenção à depressão. Essa semana ficamos por aqui. Até breve!!

Categoria: Notícias

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